13 julho 2006

Amor de jardineira


Mote:
"(...) jardinar é (quase) como amar: Dá trabalho, e muitos de nós não estamos dispostos a tê-lo."
(excerto do comentário de "simpplesmente" feito junto ao texto "fechados para obras")

Jardinar é amar. É dedicar-se de corpo e alma a dar vida a simples sementinhas, por vezes feias, insignificantes, mas das quais se espera obter algo de belo. É aprender a lhes conhecer os humores, necessidades, fragilidades e sensibilidades. Respeitar as suas maneiras de ser.
Jardinar é amar esperando receber na medida do que se dá. Por vezes, mais ainda, mas, tal como no amor, jardinar é também uma experiência em que acontecem desilusões. Em que nem sempre se recebe tanto quanto se deu. Só que esse é um desafio previamente assumido.
Jardinar é um amor quase que maternal. É dar vida, alimentar e orientar para o pleno desabrochar da flor. Um caminho que se percorre conscientemente, antevendo mas aceitando todas as falhas. Falhanços que sempre nos atribuimos, tal qual as mães fazem quando seus filhos não seguem o caminho por elas desejado.
Jardinar dá trabalho, cansa, mas também dá paz. A satisfação do objectivo concretizado. Basta usar a fórmula correcta! Salvo eventuais factores externos, a resposta será sempre igual.
O amor, o outro, é muito mais ingrato. Pura e simplesmente porque lida com pessoas. Gente que nem sempre tem os mesmos objectivos, as mesmas crenças, a mesma verdade. Gente que se esconde por vezes de si mesma. Que teme mostrar-se na sua totalidade ou engana para que a sua essência não seja descoberta. As flores não se escondem. Não mentem. Não enganam. Mesmo as menos belas têm sempre algo de fascinante.
Jardinar é um acto solitário, individual. O amor não. Exige sempre uma dupla e só dá flor quando os dois estão igualmente empenhados em fazer vingar a sementinha de que ele pode brotar para, depois, se poderem regalar com o belo fruto do seu empenho. Dá trabalho, pois dá. Para que tê-lo, no entanto, quando se antevê que o objectivo do outro é fazer crescer a flor para, depois, a cortar impiedosamente?
Gosto de jardinar para ver flores livres ao vento, seguindo o seu curso natural. Por isso é que raras vezes as apanho para as aprisionar e fazer morrer em jarras.
Assim sou mãe. De igual modo, jardineira!

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

FALHAS DE COMUNICAÇÃO
(ou outras interpretações, adivinhas e traduções de…)

A propósito da interpretação que eu fiz da frase proferida pela autora do “blog” “TENHO QUE CORTAR A SEVADILHA” quando só “QUIS DIZER QUE IA PODÁ-LA ” e que “NUNCA A CORTARIA RENTE!” inserta a 18 de Junho do corrente ano, tendo como título “UM DIA, TALVEZ! …” venho a terreno fazer a seguinte exposição.

As diferentes leituras que cada um de nós faz de uma simples palavra, frase ou comunicação, podem trazer consequências, muitas vezes graves, contrárias da intenção de quem as proferiu. E não me refiro a um litote qualquer, tipo:” Estás mesmo gordo…”quando é visível que o visado é magro e fica mais ou menos claro que estamos a transmitir a ideia que ele deve comer mais ou melhor.
A situação que introduz o tema é outra. Tem a ver com a diferença como se expressa um homem ou uma mulher e os seus objectivos.
Muitas vezes as mulheres expressam os seus desejos de forma indirecta. É quando um “não” quer dizer “sim” ou vice-versa. Aliás, a autora deste “blog” pouco tempo depois da publicação do tema, referiu uma conversa em que uma amiga dissera a um seu colega «olha ali um café tão bonito», mas pensando que o homem entenderia «vamos parar, que eu quero tomar café».
O homem vê a comunicação como um meio para chegar a um fim. Logo tem de ser expressa de forma clara, sem adornos e inversos sentidos, de modo a tomar uma decisão. Para ele, ela deveria ter dito – Pára que eu quero café
Para a mulher a linguagem é, sobretudo, um caminho para gerar laços afectivos de amizade, cumplicidade e familiares, pelo que ao se exprimir de forma subliminar, espera sempre que o visado leia nas entrelinhas o que pretende. Por isso ela adornou o seu pedido, sobretudo para não parecer que era uma ordem ou fraqueza.
A mulher, quando o homem está em silêncio, ás vezes pergunta se ele está bem, quando o que pretende saber é o porquê de ele não conversar com ela.
Neste caso a resposta lógica do homem é sim ou não estou. E quanto a conversa…estamos conversados.
Alargando o mote a outras formas de comunicação entre sexos, lembro que
através dos tempos os homens foram “educados” para serem competitivos. Eles querem mandar, discutir, explicitar e resolver logo. Querem a informação rápida e linear e a resolução (de preferência antes) imediata, ás vezes com maus resultados, digo eu.
Por sua vez, das mulheres espera (va) – se, desde logo, espírito de colaboração. Elas estão preparadas para sugerir, partilhar e negociar. Com parcimónia e com resultados sustentados. Não é por acaso que se afirma que o Mundo governado pelas mulheres seria bem melhor.
Os homens usam a linguagem, particularmente em público, em conversas que tendem a ser objectivas (exemplo - futebol). Por sua vez a mulher assumem as conversas onde se discutem temas mais subjectivos (exemplo – solidariedade).
Num diálogo, quando o homem diz que tem um problema procura ajuda e a solução. Na mesma situação, a mulher normalmente quer solidariedade (tipo algo parecido já aconteceu a fulano, beltrano ou cicrano) e não um conselho.
É nesta diferença contínua no uso das palavras que depois surgem as más interpretações.
Para bem do mundo estas tendências já estão a sofrer alterações significativas.
No meu caso vou tentando perceber os sentidos das palavras e dos actos. Quantas vezes errei e ainda irei errar? Muitas! E muitas vezes, ao longo da vida, um não vai ser sim, quando era não, ou será ao contrário, ou ainda poderá ser nim Tanto que quero entender que já não me percebo.
Prometo estar mais atento.

Voltando à origem do tema, deixo á interpretação de cada um;
CORTAR – SEPARAR OU DIVIDIR POR MEIO DE CORTE.TALHAR.DAR UM GOLPE.SUPRESSÃO.REDUÇÃO.
PODAR – CORTAR A RAMA INÚTIL DAS ÁRVORES, VINHAS, ETC; DESBASTAR
E acrescento
Aquele estranho bailado, relação amorosa, parasitismo entre a cevadilha, a videira, a nespereira e outras plantas, com cada uma a agarrar-se ou a trepar a cada qual, e que dificilmente permitia que as mais indefesas pudessem aceder á luz e a crescerem sem serem esmagadas, já não estava de acordo com o equilíbrio do rústico.

Com amor do “P”. E antes que seja mal entendido – Amor pela mulher-autora do “blog”

14/7/06 11:00  
Blogger anete joaquim said...

"Aquele estranho bailado, relação amorosa, parasitismo"...
Este parágrafo está muito giro. Gostei da descrição. Não estou a gozar. Expressa, de facto, a "selva" que ali vê.
Eu vejo de outra forma: a Natureza no seu pleno desenvolvimento e equilíbrio. Porque a verdade é que a nespereira dá nêsperas, a videira uvas e a sevadilha as suas flores. Na sombra de todas elas ainda há espaço para crescerem outras flores, que ao sol morreriam.
Quanto à conversa sobre a comunicação... A do café. Onde é que descobriu tal conversa neste blog? Parece-me que está a misturar as coisas, simpplesmente! Cuidado! Não me ponha na boca palavras nunca proferidas neste espaço!
Mas enfim, sempre serviu para dissertar sobre o tema da comunicação. De facto, deveria ter dito que ia podar a sevadilha e não "cortar". Só que essa frase expressou um pensamento em voz alta e eu cá entendo o que estou a pensar. E disse "tenho". Não disse "tens". Não era, também, uma forma subtil e feminina de pedir que me cortassem a sevadilha. Era a manifestação de uma intenção de trabalho.
E, por último, esse texto só foi escrito porque, hoje, acho piada ao que aconteceu. À interpretação da tal frase. À minha dor. Foi mais o expressar a minha relação com as flores, do que uma crítica ao "exterminador". Peço desculpa se o magoei. Não era essa a minha intenção.
É só mais um caso em que a comunicação feminina nem sempre é entendida pelo homem! O contrário também é verdadeiro, mas é nessa dicotomia que temos de viver. E, deixe que lhe diga, às vezes essa diferente forma de interpretar a vida até tem piada.

14/7/06 11:53  
Anonymous Anónimo said...

Em reposição da verdade a conversa sobre o café não foi feita (nem escrita )pela autora do "blog", mas serviu para ilustrar o tema.As minhas desculpas.
Não tem pedir desculpas por algo que não fez - magoar-me.
Em relação aquela lambada do roça-trepa-aperta lânguida,vejo que hoje cada uma desenvolve-se harmoniosamente e plantas que para se mostrarem tinham de se esticar na horizontal (quando a sua posição natural é na vertical)para verem a luz do sol, hoje erguem-se para o céu sem carregarem o peso das outras.É a minha forma de ver o equilibrio no rustico.Uma selva organizada.
No que se refere aos efeitos da boa ou má comunicação expresso o seguinte;
1 - Vou dar ainda mais atenção na decifração das mensagens que (poderão) estão ocultas nas mensagens mensagens da comunicação.
2 - Ter mais paciência e capacidade de adaptação á linguagem tanto dos homens como das mulheres.
3 - Continuar a não tomar como ofensa quando alguém não entende a minha linguagem.
Concluo dizendo que ,ainda ,não há melhor solução para os problemas de comunicação, entre homens e mulheres particularmente,que uma boa conversa.

14/7/06 15:05  
Blogger anete joaquim said...

É verdade! Nada como olho no olho. Mas não deixa de ser irónico que neste "monólogo" do jardim de pedra - como lhe chamou um dia - haja, afinal, tanto diálogo. Só com um problema: a palavra escrita é muda. Não tem tom e logo aí perde muito do seu significado. Adquire sentidos nunca pensados. Cria problemas. Nem a pontuação consegue exprimir todo o sentido que se lhe quer dar. Posso escrever: "Você é tão simpático!" Sei o que pretendo dizer, mas cada uma das pessoas que ler essa frase fará a sua própria interpretação. Ditas, essas mesmas palavras podem ser doces, sensuais, irónicas, depreciativas, sibilinas ou, até, de desprezo. Tudo depende do tom. Esse não deixa dúvidas. Mas tom é coisa que ainda não foi inventada para a palavra escrita. Por isso é que, às vezes, magoa. Suscita dúvidas. Por isso é que todo o cuidado é pouco, quando se escreve. Principalmente em público. O "monólogo" que criei não foi feito para magoar. Antes pelo contrário. Se, em algum momento, o que escrevi nesse espaço magoou alguém, peço desculpa.
O que escrevo nos comentários é diferente. É uma resposta directa à interpretação que faço do que me escrevem. Correndo os tais riscos da interpretação da palavra escrita, na qual a intenção de quem escreve nem sempre é entendida pelo receptor. Assumindo o que digo, com a mesma frontalidade com que o meu nome está bem visível no cimo do blog que criei. Não por exibicionismo, mas porque estou acostumada a assumir o que faço.
O blog foi criado para dar prazer a quem o ler. Basta-me pensar que é visto, nem que seja para deliciar os olhos. Alegrar um momento. Quanto a mim, garanto-vos: dá-me prazer escrevê-lo, tirar as fotos para ilustrar o tema, elaborar a forma de transmitir o que sinto de modo agradável para os outros. Divirto-me com isto. Divirtam-se, também. É a única coisa que peço.

14/7/06 16:47  
Anonymous Anónimo said...

o que eu estava procurando, obrigado

20/11/09 10:39  

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