08 junho 2007

atentado




Quando a parte leste do jardim era uma selva, a única coisa que me dava prazer era vir olhar o grande muro de pedra, tipicamente madeirense, que havia nesta zona. Acho que toda a minha origem madeirense vibrava com aquela visão, com o trabalho de força de braços que representava, com o passado que me trazia. Posso mesmo dizer que tinha orgulho naquele muro.


Um dia, o vizinho de cima veio pedir-me licença para que uns "mestres" (pedreiros) que ele contratara, viessem ao meu jardim "para fazer o reforço do muro" que ele ia fazer no seu terreno, que fica a um nível três metros mais acima do meu. Pensei que viessem colocar andaimes ou qualquer material para fazer esse muro dele e permiti. Fui trabalhar descansada. Para não se sentirem vigiados, quase que suspeitos, não fui para lá incomodá-los. Qual não foi o meu espanto e dor quando vi que, afinal, o que tinham feito foi deitar partes do meu adorado muro ao chão para encherem de cimento as partes que sustentavam o muro do vizinho. Deixaram as pedras e pedregulhos espalhados por todo o lado, talvez naquela de que se o terreno estava abandonado, tanto fazia. Mais grave que isso, destruiram a calçada antiga que fazia um caminho para acesso à ruína, e que passava junto deste muro. São essas pedrinhas que tenho aproveitado para fazer o caminho.

Para além disso, para poderem aceder ao meu terreno com o material, em vez de descerem pelo final do terreno, que é mais baixa, deitaram abaixo a esquina da casa em ruína. Ora, é exactamente na esquina que as pedras se entrelaçam e dão resistência e suporte às paredes, o que fez com que a parte de trás da casa começasse a inclinar-se.


O meu coração partiu-se todo! Só que o mal já estava feito. Para quê arranjar mais problemas, ainda por cima com vizinhos? E, depois, há aquela teoria de que os muros pertencem ao dono da terra que eles suportam, o que fazia com que aquele muro, afinal, fosse do vizinho e não meu. Discordo. É um muro de partilha e, quando muito, seria dos dois. Seja lá como for, o que é certo é que foi uma barbaridade ter deitado abaixo uma coisa que está a ser candidata a património mundial, tal como aconteceu com as levadas. É algo a preservar!


Durante meses recusei-me a ir àquele lado! Apetecia-me chorar sempre que via aquela mancha de cimento.


Veio Deus e arranjou uma solução: vinda não sei de onde, nasceu uma "costela de adão" (filodendro) que tapou a maior parte dos danos. Só que o vizinho danificou o muro em três zonas e nem tudo ficou tapado.


Esta é daquelas coisas que me magoam profundamente e, ainda hoje, dói-me o coração sempre que olho para esta visão.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gosta dos frutos do (filodendro)?Eu adoro,mas é preciso saber prepará-los o que nem toda a gente sabe. Tenho aqui uns visinhos que os teem e, eu aproveito para comê-los. No entanto tenho ensinado como se os prepara e já tenho concorrência.É a sociedade de consumo!!!. J.s.

8/6/07 15:32  
Anonymous Anónimo said...

Quanto aos muros,minha querida devia saber que é obrigatório desde a lei do emparcelamento rural e não só, serem os proprietários do terreno que fica em plano superior suportarem as suas terras, e o proprietário em nivel inferior nao pregar sequer um prego no dito cujo. Para tal o proprietário do nível inferior só poderá construir um muro encostado ao outro e fazer dele o que quizer. No entanto a lei prevê que os muros que separam os terrenos seja pertença dos dois proprietários se por escritura pública o muro seja construido pelas duas partes. Parte-se dum princípio que o muro a que se refere foi construido na estrema do terreno superior pelo que a minha amiga é obrigada a consentir que o dito visinho faça as reparações no respectivo, mas terá que deixar tudo conservado como encontrou.Isto é não pode danificar a parte do visinho,nem deixar correr riscos de qualquer desabamento. Infelizmente nimguém pode alegar que desconhece a lei e para tal tem de se fazer sempre acompanhar dum generoso advogado. Tive conhecimento dessa lei quando construi o meu castelo,pois o muro era enorme o que comportava despezas muito grandes. Dai fazer o muro a meias. J.S.

8/6/07 15:57  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite
Imagino o que sentiu. Mas já estava feito não é?
A sua forma de encarar a vida é exemplar. Estou consigo.
E um dia quem sabe e aos poucos o muro vai ficar a seu gosto.
A minha mãe ainda tem costelas de adão. Têm resistido.
Bom fim de semana.

8/6/07 22:41  
Blogger anete joaquim said...

JS
A minha mãe é que adora comê-los. Eu já provei e não apreciei. De facto, é preciso deixar quase apodrecer a casca, raspar o interior e só depois é que se come o fruto.
Agradeço a informação quanto ao muro. De facto, foi o que me disseram na altura. A questão é que o meu terreno e o do vizinho eram parte integrante da propriedade de um anterior senhorio, no regime de Colonia. Por força da extinção da Colonia, o senhorio vendeu os dois lotes aos respectivos colonos. Não sei quem fez o muro e com que regras. Independentemente disso, o que está em causa é o dano feito a uma peça histórica.

mr
Só se for com a sugestão do JS, isto é, construir um muro de pedra à frente daquele!

9/6/07 10:27  

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