atentado

Quando a parte leste do jardim era uma selva, a única coisa que me dava prazer era vir olhar o grande muro de pedra, tipicamente madeirense, que havia nesta zona. Acho que toda a minha origem madeirense vibrava com aquela visão, com o trabalho de força de braços que representava, com o passado que me trazia. Posso mesmo dizer que tinha orgulho naquele muro.
Um dia, o vizinho de cima veio pedir-me licença para que uns "mestres" (pedreiros) que ele contratara, viessem ao meu jardim "para fazer o reforço do muro" que ele ia fazer no seu terreno, que fica a um nível três metros mais acima do meu. Pensei que viessem colocar andaimes ou qualquer material para fazer esse muro dele e permiti. Fui trabalhar descansada. Para não se sentirem vigiados, quase que suspeitos, não fui para lá incomodá-los. Qual não foi o meu espanto e dor quando vi que, afinal, o que tinham feito foi deitar partes do meu adorado muro ao chão para encherem de cimento as partes que sustentavam o muro do vizinho. Deixaram as pedras e pedregulhos espalhados por todo o lado, talvez naquela de que se o terreno estava abandonado, tanto fazia. Mais grave que isso, destruiram a calçada antiga que fazia um caminho para acesso à ruína, e que passava junto deste muro. São essas pedrinhas que tenho aproveitado para fazer o caminho.
Para além disso, para poderem aceder ao meu terreno com o material, em vez de descerem pelo final do terreno, que é mais baixa, deitaram abaixo a esquina da casa em ruína. Ora, é exactamente na esquina que as pedras se entrelaçam e dão resistência e suporte às paredes, o que fez com que a parte de trás da casa começasse a inclinar-se.

Durante meses recusei-me a ir àquele lado! Apetecia-me chorar sempre que via aquela mancha de cimento.

Veio Deus e arranjou uma solução: vinda não sei de onde, nasceu uma "costela de adão" (filodendro) que tapou a maior parte dos danos. Só que o vizinho danificou o muro em três zonas e nem tudo ficou tapado.
Esta é daquelas coisas que me magoam profundamente e, ainda hoje, dói-me o coração sempre que olho para esta visão.
4 Comments:
Gosta dos frutos do (filodendro)?Eu adoro,mas é preciso saber prepará-los o que nem toda a gente sabe. Tenho aqui uns visinhos que os teem e, eu aproveito para comê-los. No entanto tenho ensinado como se os prepara e já tenho concorrência.É a sociedade de consumo!!!. J.s.
Quanto aos muros,minha querida devia saber que é obrigatório desde a lei do emparcelamento rural e não só, serem os proprietários do terreno que fica em plano superior suportarem as suas terras, e o proprietário em nivel inferior nao pregar sequer um prego no dito cujo. Para tal o proprietário do nível inferior só poderá construir um muro encostado ao outro e fazer dele o que quizer. No entanto a lei prevê que os muros que separam os terrenos seja pertença dos dois proprietários se por escritura pública o muro seja construido pelas duas partes. Parte-se dum princípio que o muro a que se refere foi construido na estrema do terreno superior pelo que a minha amiga é obrigada a consentir que o dito visinho faça as reparações no respectivo, mas terá que deixar tudo conservado como encontrou.Isto é não pode danificar a parte do visinho,nem deixar correr riscos de qualquer desabamento. Infelizmente nimguém pode alegar que desconhece a lei e para tal tem de se fazer sempre acompanhar dum generoso advogado. Tive conhecimento dessa lei quando construi o meu castelo,pois o muro era enorme o que comportava despezas muito grandes. Dai fazer o muro a meias. J.S.
Boa noite
Imagino o que sentiu. Mas já estava feito não é?
A sua forma de encarar a vida é exemplar. Estou consigo.
E um dia quem sabe e aos poucos o muro vai ficar a seu gosto.
A minha mãe ainda tem costelas de adão. Têm resistido.
Bom fim de semana.
JS
A minha mãe é que adora comê-los. Eu já provei e não apreciei. De facto, é preciso deixar quase apodrecer a casca, raspar o interior e só depois é que se come o fruto.
Agradeço a informação quanto ao muro. De facto, foi o que me disseram na altura. A questão é que o meu terreno e o do vizinho eram parte integrante da propriedade de um anterior senhorio, no regime de Colonia. Por força da extinção da Colonia, o senhorio vendeu os dois lotes aos respectivos colonos. Não sei quem fez o muro e com que regras. Independentemente disso, o que está em causa é o dano feito a uma peça histórica.
mr
Só se for com a sugestão do JS, isto é, construir um muro de pedra à frente daquele!
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