25 junho 2006

caminhos de pedra


Tenho orgulho no meu caminho! Neste, que construí com minhas próprias mãos e no outro, o da vida, que também, de alguma forma, fui talhando a meu gosto. Nem um, nem outro são perfeitos. Nem um, nem outro foram fáceis de percorrer.
A vida ensinou-me, no entanto, que cada passo percorrido, cada pedrinha calcorreada, cada grão de areia que nos ajuda a cimentar a vivência nos vão talhando a forma. Outros caminhos tivesse eu percorrido, não seria o que sou hoje.
Construir este ensinou-me muitas coisas. A paciência. O saber que cada pedra que colocava era mais um passo para concretizar o sonho de chegar ao fim. Neste caso, ao miradouro. Ensinou-me a não ter pressa.
Aprendi, ainda, que tenho mais força e capacidades do que, por vezes, imagino.
Por outro lado, ensinou-me, também, que tal qual na vida, às vezes preciso descansar o peso da jornada nos ombros de alguém. A não carregar tudo sozinha. A prova é que a parte final deste percurso foi feita toda pelo P. É o que eu chamo "a avenida", aquela parte que conduz ao miradouro, a partir das cadeiras azuis.
Muitas destas lajes foram, igualmente, transportadas pelo P. Cada uma pesa cerca de oito quilos. Ele chegou a transportar cinco e seis de cada vez! Do portão ao miradouro vão cerca de 90 metros de comprimento. Tivemos de transportar as lajes desde o local onde o carro fica estacionado. A maior parte delas em braços. Garanto-vos: não foi fácil. Mas, tal qual na vida, percorrêmo-lo juntos. Unidos no mesmo propósito. Eu, sabendo para onde queria ir e o que queria. Ele, ajudando-me a concretizar o sonho.
Tal como no caminho da vida, este fez-me ver os erros cometidos e deu-me tempo para os ir emendando. Mesmo assim, alguns ainda perduram. É o caso das ervas daninhas, que teimam em nascer por entre as pedras. Erro meu, na construção. Não usei o método correcto. Agora pago o meu erro, condenada a ir combatendo essas pragas. Até ao dia em que me decida a exterminá-las de vez ou a levantar todas as pedras mal colocadas e começar tudo de novo.
Os erros, no entanto, dão-me uma satisfação: o de me não saber perfeita. Ao contrário do que alguns imaginam, não o sou. Disse-o tantas vezes a meus filhos, quando eram pequenos. Também cometo erros. Sou humana. Não esperem tanto de mim!
Além disso, não gosto da perfeição. Acho-a anti-natura. É nas pequenas imperfeições de uma pedra que, por vezes, reside toda a sua beleza. É o que a torna única. Assim acontece na vida, na arte, nas pessoas.
O caminho é, também, a expressão da forma como vejo a vida. Um todo belo, composto de pequenos detalhes, alguns deles imperfeitos, é certo, mas sem os quais a vida não seria a mesma!

1 Comments:

Blogger Lília Mata said...

Adorei este texto, nos seus multiplos significados e mensagens. Emocionou-me.

27/6/06 19:35  

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