04 junho 2007

mãe é fogo!


Ontem, em vez de irmos lanchar e passar a tarde em casa da mãe, como usualmente fazemos aos domingos, convidei a família para vir cá a casa. Há muito tempo que andava a dizer à minha mãe que o jardim estava lindo e, como sei que ela adora flores, quis mostrar o efeito de toda esta miscelânea de cor.
As visitas da minha mãe têm uma particularidade: embora adore tê-la cá em casa, acabam sempre por me deixar um travo amargo.
Ela entra e quer ir logo ver o jardim. Vai apreciando cada florinha, cada espaço, tecendo alguns comentários elogiosos ao aspecto das flores que vai encontrando, mas há uma frase que temo sempre ouvir (e que ela nunca deixa de dizer): "Ah! Tu devias..." podar isto, ou tratar da vinha, ou cortar aquelas daninhas... E aquele "tu devias" vem sempre tão carregado de um tom tão crítico, que eu fico parva com o facto de ela não perceber que eu sei que devia... só que não tive tempo para fazer também aquilo.
Ontem, antes dela chegar, tinha dito ao Paulo que ia arranjar um cestinho com uma foice, um podão e uma vassourinha. Mal ela chegasse, entregava-lhe o cesto e dizia-lhe que iria encontrar alguma coisa para fazer. Em vez de dizer "tu devias", com aquele ar tão crítico, pegava na ferramenta adequada e arranjava. Era uma forma de contribuir para pôr o meu jardim ao gosto dela e cada vez mais bonito. Acabei por desistir da ideia e decidi que já é tempo de deixar de me sentir tão criança quando estou perto dela.
Ela lá chegou e começou a visita guiada. A coisa até que ia bem, pois nos últimos dias tenho-me dedicado mais à parte do jardim da entrada. Estava eu toda feliz por não receber aquela fatídica frase quando chegámos à parte inicial do lado leste do jardim. Mal viu o canteiro dos crisântemos e das prímulas, já com daninhas a crescer entre as flores, olhou desolada para aquele conjunto e disse com ar triste: "Oh! Anete! Tu não devias deixar crescer as daninhas! Tens de arrancá-las logo!"
Eu respondi: "Eu não deixo! Elas é que crescem! A mãe não vê que não tenho tempo para fazer tudo sozinha? Ou bem que estou deste lado, ou do outro!"
Pois! - respondeu ela - mas não deves deixar!
Desisti! Não entendo como é que ela não vê a parte linda que emoldura as daninhas! Como é que é sempre mais importante ver o que está mal, do que perceber e apreciar sem críticas todo o trabalho que tenho com este espaço. Bem sei que a intenção dela é boa. A de aconselhar. A de querer que o jardim esteja perfeito, mas que diabo, não pode estar perfeito! Será assim tão difícil de entender? Será assim tão difícil perceber que me entristece com aquele comentário? Que está a ser demasiado exigente comigo?
Bem! O que é certo é que não será hoje que irei tirar aquelas malditas daninhas. Esta semana tenho de ir trabalhar e o tempo para o jardim é menor.
Já estou atrasada! Até amanhã!
E, por favor, vejam as daninhas, mas não deixem que elas vos tapem a vista para as flores bonitas do jardim!
Por que é que havemos de pôr em primeiro plano as coisas más da vida e esquecer as boas?

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Creio que há pouco tempo disse-lhe que todos veem o vinho que bebemos mas não veem os tombos que damos!!! Não faça caso pois a senhora sua mãe ainda a vê como aquela menina que precisa que lhe lembrem sempre o que teem a fazer. É o P.D.I. (problema da idade). bjs João.

4/6/07 14:26  
Blogger anete joaquim said...

É, João! Mãe vê sempre os filhos pequeninos! A minha é um amor e adoro-a e, talvez por isso, me deixe afectar tanto pelo tom desolado das suas críticas. Acho que, em relação a ela, ainda não me consegui libertar do cordão umbilical. A verdade é que grande parte do trabalho que tenho aqui é feito a pensar na alegria que lhe vou dar e daí a pena de não conseguir esse intento na sua plenitude. O Freud deveria explicar isto muito bem. O problema é meu. Não dela!
bjs

4/6/07 22:45  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite Anete
Como a entendo!
Mas mãe é assim mesmo.
Mas é tão bom termos ainda as nossas mães.
Mesmo com os reparos não é?
Fique bem.
Um abraço

4/6/07 23:29  
Blogger anete joaquim said...

Se é! Ela é tão querida e bonita! Acima de tudo, é o ponto de união entre nós todos. Quando ela se for há muitos irmãos que, se calhar, vou deixar de ver com tanta regularidade, visto que é na casa dela que nos juntamos todos ao domingo.
O meu lamento é apenas a expressão da frustração que sinto por ver que, do meu trabalho, ela só nota aquilo que não fiz. É certo que ela elogia as flores, porque gosta delas e as acha bonitas, mas não é capaz de dizer "Fizeste um bom trabalho!" E, depois, não é bem a crítica dela que me entristece, mas o tom tão desolado com que ela as faz. Parece que cometi um crime de lesa magestade! Ora, se tenho tanto cuidado e trabalho para que tudo esteja o mais perfeito possível para que ela se sinta feliz, acabo sempre por ficar com a sensação de que não o consegui. Confesso que é frustrante.
um beijo

5/6/07 09:10  
Blogger Nelio said...

bem se ela fosse ver o meu...então é que via daninhas,mas eu também não posso andar sempre lá, ás vezes ao fim da tarde um dia ou dois por semana,ou pode haver dias em que vou algumas horas,mas o jardim é enorme se eu limpo de um lado chego ao outro ja tem ervas,então tento sempre andar um pouco aqui e ali a ver se não fica com mau aspecto,para além de ser um jardim público,mas vale a pena o esforço que faço recebo muitos elogios de quem por aqui passa,mas quando meti mãos á obra alguns até me chamavam louco,mas eu como não me deixei ir a baixo tenho muito orgulho no jardim,só lamento tanta gente com terrenos e jardins mal cuidados que não fazem uzo deles,a terra dá,basta uma ajudinha,o clima ajuda,felizmente ainda temos água,então jardineiros(as)da ilha façam realçar a ideia de que a Madeira é um jardim no atlântico,afinal o que faz girar tudo isto o turismo claro,os estrangeiros adoram ver cada esquina uma flor...

6/6/07 03:53  
Blogger anete joaquim said...

Nem mais, Nélio, nem mais! É isso mesmo! Só tenho pena que o meu jardim não seja visto do exterior. Apenas a pequena parte inicial da entrada do carro. Por outro lado, é nessa surpresa de quem entra e vê o que aqui está que reside grande parte da beleza deste jardim. É um espaço íntimo. Também tenho orgulho no meu! Um dia ainda ponho um letreiro no portão! Passam aqui tantos turistas!

6/6/07 08:54  

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