25 agosto 2006

calçada madeirense

Umas para cá, outras para lá, todas em fileira, bem arrumadinhas! É assim a calçada madeirense à moda antiga. Feita pedra a pedra, naquela doce paciência com que o madeirense cavou túneis e fez levadas, criou poios e ganhou espaço à terra.
Feita com arte que vem do coração. Uma arte feita de tradição, passada de geração em geração.
É tudo isto que sinto e vejo quando lavo ou varro o quintal em frente à casa. Gosto de conservá-lo, fazer com que se perpetue por mais uns tempos. Enquanto aqui viver, assim será. Espero que um dia, se alguém comprar esta casa, não o estrague com cimento ou outro material mais moderno (mas não tão bonito).
É uma calçada difícil de varrer quando não se lhe percebe a alma. Tem de se levar a vassoura no correr da pedra. Divirto-me varrendo de enfiada cada um dos rectângulos de que é composta esta parte do quintal. Começo por uma ponta de uma das laterais e vou até ao fim. Depois, volto pela fiada do meio. Quando acabo essa, começo na seguinte e, então, apanho o lixo todo de uma vez. Com a mesma paciência com que foi feita, embora com menos trabalho do que então. Acabada essa parte, lavo-a da mesma forma, deixando que a água lhes desenhe o contorno.
Hoje, um raio de sol veio banhar-se na poça que ali ficou. Brilhou, transformando em diamante as pedras negras da calçada. Quase que numa alusão ao tesouro que encerram estas pedrinhas...