21 outubro 2006

espanta-espíritos

Por norma não tenho medo das pessoas. Não por sempre e apenas ter encontrado das que têm bom coração, mas por achar que, mesmo as más, guardam algo de bom dentro delas. É preciso é encontrar esse ponto.
Pois bem! Não tenho medo das pessoas, mas confesso: há aspectos da Natureza que me amedrontam. Trovoadas, vento ou chuva demasiado fortes, o mar, naqueles dias de tempestade... Sinto-me pequena, indefesa, impotente perante todas essas forças. Tenho de fazer um esforço para não entrar em pânico. Verdade!
A situação agravou-se, especialmente, desde que vim para esta casa. Essencialmente, pelo facto de estar rodeada de árvores. O barulho dos ramos fustigados pelo vento faz com que este pareça sempre maior do que é. Temo que uma das árvores atraia algum dos raios ou me caia sobre a casa. A chuva forte faz-me sonhar com enxurradas, que me deixam encurralada dentro destas quatro paredes.
Antes de ir para a cama, nesses dias, adoptei o sistema de ir à porta, ver com meus próprios olhos, qual a dimensão da coisa. Isso acalma-me, faz-me sentir mais segura e consciente de que não está tão mal como parece.
Em Julho, depois da construção da tenda branca da entrada, resolvi pendurar num dos seus varões o meu espanta-espíritos. Adoro o leve murmúrio dos seus sininhos, quando varridos pela brisa. Mais tarde, descobri que quanto maior é o vento, mais música me dão.
A partir daí, o assustador rugido do vento passou a ser mais suportável. Sobre ele permanece o tocar dos sinos do espanta-espíritos, embalando o meu sono, aninhando-me a alma para o sono.
Acho que, no fundo, o espanta-espíritos funcionou. Pelo menos para mim. Espanta-me o medo! Pelo menos parte dele! Já não é mau.
Tenho de arranjar mais meia-dúzia deles!