10 outubro 2006

Para pensar

Tenho uma série de "pedregulhos" atravessados na garganta e como este é um jardim de pedra, que local mais apropriado para os "vomitar"? Deixo, portanto, algumas questões que se me atravessaram no caminho, um dia destes.

Num simples passeio pelo centro do Funchal verifiquei, com alguma surpresa, o encerramento de uma série de lojas. Uma delas, quase moribunda, ostenta um cartaz com letras garrafais que diz: "kuando akabar akabou". A percentagem de redução de preços que oferecem tem vindo a baixar, mas mesmo assim ainda não conseguiram vender o stock todo.
Dei por mim a pensar que, por trás daqueles encerramentos, há um povo cada vez mais pobre, que já não tem capacidade para consumir a não ser o essencial para a sua sobrevivência. Esse pensamento levou-me a outro: a de um país com ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.
A imagem fez-me recordar a luta que Alberto João Jardim travou, no tempo em que Manuela Ferreira Leite resolvou congelar o salário da Função Pública. Gritou o presidente que a política da ministra (que até era do seu partido) estava errada. Que era preciso fazer o contrário. Pagar melhores salários. Só assim, dizia Jardim, haveria dinheiro a circular, o que faria dinamizar a economia. Ninguém lhe ligou e o resultado começa a ver-se. E, preparem-se: com a redução de fundos (nacionais e comunitários) vai agravar-se!

********** estamos a precisar de estrelinhas!*********

Na minha rua, num simples espaço de 200 metros, há, pelo menos, seis desempregados. Estou a falar de gente que já trabalhou! Dei por mim a pensar se será a minha rua que é azarada ou se esta mostra reflecte o que se passa noutros lados.

********** mais estrelinhas, por favor!****************

A TVI estreou, domingo passado, o programa "Canta por mim". A ideia de vários artistas cantarem pela causa de "afilhados" com problemas até que é gira. Pelo menos vende bem! No entanto, se bem entendi, encerra uma certa crueldade. É que, pelos vistos, daqueles desgraçados que ali foram na esperança de verem os seus problemas resolvidos, apenas alguns terão essa sorte. Acho cruel dar falsas esperanças a esta gente!
Devo andar a pensar demais, mas dei por mim a pensar que os problemas de cada um dos "afilhados", embora enormes para que os possam resolver sozinhos, necessitariam apenas de algumas migalhas da fortuna de muita gente que estava na plateia.
Vá lá que António Vitorino de Almeida levantou a sua voz na defesa dessa causa. Foi o único! Espero que a sua voz tenha mais peso do que a minha!

**** estão-me a faltar as estrelas!***

Todos estes "pedregulhos" deixaram-me uma série de perguntas no peito. Quanto tempo mais teremos de passar até que os ricos entendam que, sozinhos, nunca conseguirão dar à economia a dinâmica que uma classe minimamente média dava?
Quanto terão de pagar um dia, em impostos, para que o Estado tenho verba suficiente para apoiar a pobreza toda que se avizinha?
Quanto terão de pagar para se protegerem de desesperados que tentarão a sua sobrevivência através do roubo ou da violência?
Quando entenderão os ricos que ao pagar melhor os seus empregados - em vez de os escravizarem por cada vez menos dinheiro, só na ânsia de mais encherem os bolsos - estão a contribuir para o desenvolvimento das suas próprias empresas e do País? Será que nunca mais percebem que o dinheiro que pagarem de salários servirá para que os seus empregados comprem a outras lojas, fazendo com que os donos destas, por seu turno, tenham dinheiro para consumir noutros locais e assim por diante?
Será que o dinheiro a mais, cega? Será que nos faz estúpidos?
Estamos a precisar de estrelas! A noite está cada vez mais escura!