24 outubro 2006

sou mais eu no inverno

Chega o Inverno e cá estou eu em toda a minha nudez. A alma despe-se das máscaras de fortaleza e serenidade com que me enfeito o resto do ano. Sinto-me frágil, pequenina, perante as forças da Natureza. Apetecem-me carinhos e abraços, o aconchego de braços fortes, o sossego protector do lar.
A vida, no entanto, nem sempre nos reserva o apetecido e lá tenho de enfrentar as agruras da Natureza, aceitá-la tal qual ela é e orar à Virgem, a Deus e a todos os Santos para que me protejam. É tempo, quase que diria, da maior espiritualidade. De colocar-me nas mãos divinas com toda a Fé e esperar que os desígnios dos Céus tenham o meu destino bem traçado.
É nesta hora, também, que todos os meus sentimentos maternais assomam à flor da pele. Temo pelos meus filhos quando sei estarem na estrada no meio do temporal. Morro de medo de perdê-los, receio que não entendam os riscos e fico ainda mais tristonha quando gozam dos meus medos a que chamam "dramas". "Não stresses, mãe", dizem eles, mas mal sabem o que me vai na alma.
É nesta altura do ano, também, em que mais penso na minha mãe, sozinha numa casa em tempos recheada de dez pessoas. Cada trovão que me assusta faz-me pensar no medo que ela também - sei-o bem - está a sentir. Apetece-me aninhá-la, confortá-la, chamá-la para bem perto de mim. Quem sabe, dois medos não se consolariam?
E a minha casa? É no Inverno que mais preocupações me dá! As telhas estarão no sítio certo? Terão os gatos dos vizinhos tirado alguma do sítio? E é andar a espreitar os tectos, a ver se alguma pinta de água os começa a tingir. Só para marcar o sítio, que em cima de telha molhada não se anda. Terá de se aguardar até ficar seca, senão o certo é partir-se uma série delas e complicar-se o problema.
Começa a ser hora, também, de regressar às origens e calçar as minhas botas de viloa (ou vilhoa, como cá se diz).
É tempo de Inverno. Estou nua!
Enfim! Sem qualquer dúvida: "Sou mais eu no Inverno!"

7 Comments:

Blogger Ezequiel Coelho said...

Somos sempre "mais nós" nos momentos de fragilidade!

Bom dia!!!

24/10/06 12:56  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite Anete
É inegável que somos sempre mais nós nos momentos de fragilidade.
O seu texto é muito esclarecedor.
Muito cuidado nesmo. Ontem tomei conhecimento do acidente. Lamento.
Pensei nas famílias. Que desolação.
Faz muito bem alertar para os perigos. E com conhecimento de causa. Ainda bem que foi só um susto para o seu filho.
Hoje estou atolada com trabalho. Talvez volte.
O mote é interessante.
E a saúde está melhor? Cuide de si.
Bjs

25/10/06 00:08  
Blogger anete joaquim said...

A humidade que está não ajuda, mas isto há-de passar.
Quanto a motes... fico à espera de novo desafio.
bjs, hoje tenho metros de respostas a dar ao ou à ez...

25/10/06 00:23  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite Anete

Está mesmo Inverno.
Hoje foi um dia muito triste, daqueles dias em que choram as árvores e fica tudo muito cinzento.
Já vi que por ai a situação é identica.
Vou tentar dormir. Levanto-me às 6:00 h e as horas estão a passar.
Dormir faz bem.
Boa saúde
E como já afirmei a Anete é uma contadora de histórias com substância.
Dá enfoque às plantas mas sempre com muita mensagem.
Sempre o melhor

25/10/06 02:04  
Blogger anete joaquim said...

mr,
você é um carinho!
É sempre com prazer que leio as suas mensagens.
Durma bem e tenha um dia feliz!

26/10/06 01:34  
Anonymous Anónimo said...

Olá
Gostei da resposta á minha frase desafio, embora não condiga muito com a minha maneira de ser. A natureza é isso mesmo, nos humanos como nas plantas: a variedade faz a beleza da espécie!
Bjinho

26/10/06 10:44  
Blogger anete joaquim said...

Oi, anónimo(a)
Confesso que gostei da sua frase, não só pela originalidade da construção como pelas potencialidades de interpretação que encerrava. A força do desafio foi de tal ordem que mesmo tendo acabado de escrever que não teria tempo de lhe dar resposta naquele momento (estava a preparar-me para ir trabalhar) não fui capaz de resistir ao apelo. Optei por me deixar guiar pelo impacto pessoal da frase. Poderia ter ido por outros caminhos, mais intelectuais e gerais, mas deixei-me guiar pelo coração. Natural, portanto, que a minha versão não coincida com a sua. Não é só a variedade que está aqui em causa, mas a especificidade de cada um de nós. Somos únicos e assim reagimos.
Obrigada por ter respondido ao desafio.

27/10/06 01:06  

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