25 agosto 2006

de onde eu vim!

Um dia assim faz-nos pensar por que viemos ao mundo e daí não poder deixar passar esta oportunidade para vos mostrar de onde vim. A minha origem está neste quadro, nos dois postais e no cartão que os une. É das poucas heranças que tenho de meu pai. Deu-ma a minha mãe há tempos, sabendo do valor que dou a estas pequenas (grandes) coisas.
São apenas dois postais românticos e um cartão. Recordações que ela guardou com carinho estes anos todos. Lembrança daqueles tempos de namoro à moda antiga, em que as palavras ganhavam todo o seu valor.
No meio, o cartão que ditou a minha existência. É um aparente cartão de visita, mas o seu valor está nas palavras que encerra. Ao centro, em letras maiores, pode ler-se "Por si minh'alma sofre".
Nos dois cantos superiores, duas frases que devem ter deixado o coração dos dois pendentes da resposta. Quase que adivinho a ansiedade de meu pai, esperando a decisão final daquela que viria a ser minha mãe. Quase que sinto a alegria dela quando o cartão lhe chegou às mãos.
Assim rezam as frases: à esquerda, "Dobrando este canto será o sim" e à direita, "Dobrando este canto será o não".
A elaboração do pedido, contudo, é ainda mais sofisticada com a última frase, em letra miudinha, por baixo da frase central. É a terceira alternativa possível e encerra a esperança, mais desejada, com certeza, do que a fatalidade da dobra no canto direito. "E feliz seria se aceitasse os meus protestos de amor. Devolvendo o cartão intacto dará uma esperança", diz a frase. Que é como quem diz, se ainda não tiveres certezas, ao menos não mates as minhas.
Uma coisa pode ainda ver-se: a dobra no canto superior esquerdo. Uma dobrinha ténue, quase apagada pelo tempo, mas que me recorda que foi dessa resposta que nasceu a união de que eu haveria de ser fruto!

4 Comments:

Blogger Jomal said...

Anete,
Esta é a postagem mais bela do "Jardim de Pedra"!
Após a sua leitura, a minha mente mergulhou num turbilhão de pensamentos!
Recordei, com profunda emoção, cerca de 13 anos de convivência, com o Senhor seu Pai: Rui Marques Joaquim - grande Amigo que sempre respeitei e estimei e cujo exemplo me tem ajudado e inspirado, ao longo de mais de quatro décadas.
00.10, agora vou tentar dormir!

Jomal

25/8/06 15:12  
Blogger anete joaquim said...

jomal
Qual era a profissão de meu pai?

25/8/06 15:28  
Blogger Jomal said...

O Senhor Rui Marques Joaquim era Artista Gráfico.
O melhor Artista da Região, na especialidade dele, durante várias décadas.
Eu fui seu aprendiz no Bazar do Povo.
A Anete, conhece bem a Sra. Dona Ana que também aprendeu com ele tal profissão e produziu belos trabalhos.
Imagino que a Anete também se deve ajeitar um pouco na matéria!

Jomal

26/8/06 16:18  
Blogger anete joaquim said...

Jomal
É! meu pai era mesmo um artista. Encadernador. Vi-o, muitas vezes, a trabalhar. Infelizmente, apenas tive umas pequenas "luzes" da sua arte e, hoje, lamento não ter dedicado o meu tempo a aprendê-la. Minha mãe aprendeu a coser os livros para o poder ajudar nos trabalhos que levava para fazer em casa, mas não a encaderná-los. A fazer aqueles belos trabalhos a folha de ouro, com que ele desenhava letras e outros motivos nas capas. Acho que é dele que me vem a veia artística, o gosto pelas letras e muitas outras coisas do meu carácter, que muitas vezes identifico com o dele. É dele que me vem, também, o gosto por ensinar. Não guardo trunfos na manga, mesmo na minha profissão, que é tão competitiva. Estou sempre à disposição de quem quiser aprender e a minha satisfação não são prémios ganhos, mas a marca que deixar atrás de mim. Tal como ele! Espero que o jomal tenha aprendido o suficiente com meu pai. É uma forma de perpetuar o seu nome. Assino a minha poesia como A. Marques Joaquim, numa forma de homenagem a meu pai. "A" ele, entende? Infelizmente, quem mandou publicar parte do meu trabalho (uma amiga muito empenhada a quem mostrei alguns poemas) entendeu pôr o meu nome completo "para que eu fosse conhecida". Fora esses poemas iniciais, nada mais foi publicado.

27/8/06 11:35  

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