17 setembro 2006

De onde vimos? Quem somos? Para onde vamos?

Gosto da pintura de Gaugin, das suas cores vivas e, no entanto, é deste quadro, quase sem cor, que gosto mais. Talvez porque tenha sentido e nos faça pensar.
Em francês, no canto superior esquerdo, o pintor deu-se ao cuidado de deixar a questão bem formulada: "D'où Venons Nous? Qui Sommes nous? Où allons nous?" (De onde vimos? Quem somos? Para onde vamos?)
Tanto deve ter pensado no assunto, que tentou suicidar-se, mal o terminou. Terá encontrado a resposta? Não sabemos. O que sobrou da história foi a sua morte, pouco tempo depois, devido à doença que o vitimou. Tinha 55 anos.
O quadro, tal como as perguntas, divide-se em três partes. No canto inferior direito, o conjunto de mulheres rodeia uma criança. É a origem.
Ao centro, uma mulher feita marca o presente.
A morte adivinha-se no canto inferior esquerdo, onde uma mulher idosa lembra o fim da vida. Para onde vamos?
A pintura suscita-me outras interrogações. Por que terá Gaugin representado todo este ciclo apenas com mulheres? Qual a razão de toda aquela névoa azulada que percorre todo o quadro? Faz-me pensar no fio condutor que marca toda a nossa existência. Porque a verdade é que aquilo que somos é fruto do que fomos e será a semente do que viermos a ser.
E - perguntarão vocês - que tem tudo isto a ver com a quinta? Ao jardim de pedra? Tem tudo! É a forma que dei àquilo que sou, àquilo de que mais gosto. É o concretizar da menina que fui, citadina, mas de alma rústica. "Para onde vou?" é a pergunta que sempre me faço, quando ando nestas voltas e reviravoltas para a tornar mais linda e acolhedora. Para quê? Que fim terá esta minha obra? Quem dela usufruirá, quando eu já cá não estiver? - pergunto-me muitas vezes.
Descansem! Não me vou martirizar com essas dúvidas. Ainda estou na fase central do quadro! Vivo o presente. Sei quem sou. Não tenho dúvidas sobre o meu passado. Quanto ao futuro... Olhem, como disse Gaugin antes de partir para o Tahiti, “A vida é uma mera fracção de segundo. Um bocado de tempo infinitamente pequeno para preencher com os nossos desejos, sonhos e paixões.”
Não deixo de ter essa noção sempre bem presente e, talvez por isso, a minha ânsia de preencher cada momento com os meus sonhos. Nesta quinta. Ao menos isso ficará!
Para quem? Não importa!