licores de tangerina e de cacau

Ora cá está o meu licor de tangerina, revelando bem toda a cor do fruto. Está bem apuradinho. Diz o Pantagruel que os licores devem ser clarificados, misturando uma clara de ovo e respectiva casca, bem partidinha. No dia seguinte, coa-se tudo e volta-se a deitar clara e casca, tantas vezes quantas as necessárias para o licor ficar límpido.
Confesso que não me atrevo a fazer essa clarificação. Por dois motivos: porque me causa uma certa repugnância meter clara e casca de ovo dentro do licor e, depois, porque tenho medo que isso me contamine o licor com salmonelas. Vá-se lá saber! À cautela, vai mesmo assim. Talvez ainda o coe mais uma vez para ficar mais límpido, mas confesso que a densidade que tem, com pequenas partículas do próprio fruto a flutuar no líquido, estão a saber-me muito bem. Está um licor caseiro, na verdadeira definição do termo.
A garrafinha pequena, à direita das duas garrafas do licor de tangerina, é de licor de cacau. Fi-lo o ano passado. Numa daquelas minhas experiências, resolvi acrescentar natas à receita do Pantagruel. Não resultou! A nata forma uma película no cimo do licor, pelo que é preciso coá-lo antes de servir, ou chocalhá-lo bem, até que tudo fique bem integrado. Mesmo assim, ficam sempre alguns grumos a flutuar. Não gosto. Aconselho a não colocarem natas. Só as coloquei numa parte do licor e a verdade é que a garrafa que não tem natas está muito melhor.
Bem, para que não restem dúvidas, fiquem sabendo que o licor de vinho que aqui está já tem um ano, o de cacao foi feito o ano passado e o de tangerina, agora.
Daqui a um ano, pelo andar da carroça, ainda haverá dos três licores.
Como podem ver, não ando aqui aos copos!