Para que tudo fique claro
Não ouvi a frase, nem a entoação com que foi dita, mas a sua leitura tem várias interpretações possíveis.
Pode ter sido dita no sentido de "olha, não a ajudas a fazer nada?", assim como que uma censura, como também no de que eu só destaco o meu trabalho para ficar com os louros todos. Uma outra interpretação possível seria a de um elogio mas, nesse caso, e porque o conheço, a resposta não teria sido o silêncio. Acima de tudo, havia alguma mágoa na forma como ele me transmitiu aquela frase e daí este esclarecimento.
Quanto à primeira hipótese, há que esclarecer que o Paulo sai de casa às 7h30 da manhã e só volta pelas 20, salvo nas semanas em que eu trabalho e nas quais, prefere esperar para vir para casa comigo. Ora, eu saio às 21 horas (e às vezes mais tarde do que isso) e não é a essas horas que vamos para o jardim. Pode facilmente concluir-se que se ele não me ajuda é porque não pode.
Com tanto tempo que tenho para o jardim, salvo raras excepções é que o trabalho ao fim-de-semana. Ele também tem direito ao descanso e esses são dias em que posso dar-me ao luxo de gozar a sua companhia. Portanto, é só nas férias que trabalhamos juntos naquele espaço e bem noto o gosto que ele tem em me agradar.
Quanto à segunda hipótese, não "enfio o barrete". Já referi que a ele devo o facto de, hoje, a parte leste do jardim só existir devido à ajuda que ele me deu a construí-lo. Até aí nada mais era do que uma selva. Foi ele que transportou em braços os pedregulhos que contornam os jardins; foi ele que construiu a parte do caminho da avenida e reconstruíu o muro em frente das ruínas e a ele devo o miradouro com que tanto sonhei. No jardim em frente da casa há o caminho de pedra e telha, feito por ele, como fiz questão de dizer no respectivo post. Recentemente, até tive o cuidado de mostrar a "escultura" que ele fez com recurso a calhaus pintados. Tudo isso foram trabalhos feitos em férias.
Não tenho por hábito colher louros que me não pertençam e a prova está bem patente no caso dos pneus pintados, que poderia ter apresentado como ideia minha, mas que tive o cuidado de referir ter sido inspirada num blog australiano, que só por grande coincidência alguém descobriria.
A verdade, no entanto, é que é quase ausente a presença do Paulo neste blog. Por duas razões: a primeira, porque aqui se mostra o que está a ser feito no jardim, trabalhos em que, pelas razões já apontadas, ele só raras vezes participa.
A segunda, porque a dada altura, por um comentário feito no blog, me pareceu que ele não queria ser referido neste espaço. Na resposta escrita que lhe dei então, garanti-lhe que nunca mais me referiria a ele. Costumo cumprir as minhas promessas e só voltei a mencioná-lo na altura em que o vendaval nos levou as tendas, não só pelo esforço que ele fez para as salvar, debaixo de trovoada, como pela tristeza que lhe vi no rosto e pela noção de que ele não se importaria de ser referido. Não estive no espectáculo de fim-de-ano, não fui eu que tirei a foto dele a cantar e não é por acaso que ela aqui está.
Tenho a perfeita noção de que me exponho neste blog e, também, a de que não tenho o direito de expor quem cá não quer ser mencionado. Não é por acaso que raras vezes falo dos meus filhos e da minha família e que nunca mostrei alguns dos quartos da casa. Pode parecer o contrário, mas há muita coisa omissa neste blog, no que à minha vida diz respeito, porque envolve outras pessoas.
Voltando à questão inicial, tenho de concluir que, INFELIZMENTE, faço quase tudo sozinha. Bem que gostaria que assim não fôsse, de ter dinheiro para pagar um jardineiro e uma empregada, mas a verdade é que se não aproveitar o tempo que tenho - e que é muito - não teria o jardim no estado em que está. Mas também é verdadeiro que passo as semanas de folga literalmente metida dentro de casa, para poder tê-la como me agrada e que lhe dedico grande parte das manhãs, mesmo nas semanas em que trabalho. Por uma questão de gosto pessoal. Adoro estar em casa e tratar do jardim. Para mim, tudo isso é um prazer. Não uma obrigação. Não tenho o direito de exigir o mesmo dos outros!
Confesso que gosto de mostrar o resultado dos meus trabalhos, mas saliento que partilhar este espaço foi, desde o início, o objectivo principal que tracei. Está bem patente no cabeçalho.
Se daí transpira aquilo que sou e faço é a lógica natural da vida. Entristece-me que o meu trabalho possa causar em alguns a noção de que pouco fazem ou são capazes, mas isso só resulta de essas pessoas fazerem comparações que não podem ser feitas.
Não são essas as razões principais deste blog!
A meta foi dar aos outros um pouco de prazer e agrada-me ver concretizado esse sonho. Espero tê-lo conseguido!
Mais alguma dúvida?